quinta-feira, 8 de setembro de 2011



Sabemos que gostamos realmente de alguém quando acordamos ao seu lado e percebemos que seríamos capazes de continuar assim toda a vida.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Milagre

"A minha estrela apaga-se no instante em que te amo e com ela a vida e o tempo. Resta Deus ou o que eu acho que Ele é. Ou então a gratidão de existir, existindo perto de ti. Não há nada igual. Não te tenho porque és abstracta. Não existes porque não me é permitido, ou nunca me foi prometido instante assim. Não existo, porque amar como as estrelas está proibido. Não me deixarão amar assim, porque é demais, e tudo o que é demais viola a lei dos virtuosos. Queria dizer-te quanto te adoro quando me dás um bocadinho que seja da paisagem perfeita de que és feita. Não há tons de azul, nem recolhimento de águas, nem segredos de vento, nem cor de flor que desenhem o teu perfil, e dentro desses traços sopra o mosteiro onde me aconchego e me protejo. Espreita e verás uns olhos de criança, vestidos de alegria que só as crianças têm. Mais do que alegria, espanto. Espanto de um mundo que nos leva às cavalitas e nos faz sentir mais altos, assentes em ombros de montanhas, seguros por mãos que, de tão sólidas, lançam âncoras no centro da terra. E dão vontade de rir, porque afinal não há razão para ter medo de mexer nas nuvens, brincar com o infinito, esticar o dedo e provar o céu. Tudo isto para dizer, mais uma vez, só mais uma vez, que te amo. Como uma bênção, como um perdão, como um sorriso ou outra coisa quente que fica, perene, na nossa memória ou na nossa vida. Queria dizer-te da minha gratidão, da minha incredulidade de que estejas ao meu lado. E pedir-te desculpa. Desculpa do carpinteiro que incomoda. Por maçar. Que não exige, mas só por existir incomoda, perturba o equilíbrio das coisas belas, pela humildade de que se veste, pela curva de quem se curva. No meu caso, perante o milagre dos teus olhos. A perfeição do silêncio que nada agita, o fogo da lareira que de madeira se alimenta, que além do mais brinca com os meus olhos. (...) Quero ficar quieto, cabeça enrolada por debaixo da minha asa, ou, melhor ainda, que a asa sejas tu, quando flutuas. Estás perto,na proximidade de anos-luz, que é a medida que se deve usar quando o coração espreita pelo buraco da fechadura. O meu atreve-se, coitado, a essa fantasia, sem perceber que paga com a vida a curiosidade de espiar os deuses. Ou então, por clemência, levará o resto da existência temendo perder, um dia, o que um milagre lhe entregou."


Nuno Lobo Antunes


Sinto Muito

domingo, 3 de julho de 2011

Bambi

São pequenos bocadinhos que caem e provocam um barulho ensurdecedor assim que embatem no chão. São bocadinhos de vida, e é a minha que cai, a pouco e pouco. Tu passas e pisas cada pedaço, sorrindo com a satisfação típica que outrora te conheci. Eras feliz, fazias-me feliz. Perdemo-nos algures no meio de sorrisos e promessas. E a minha chuva de vida não pára de cair e continua a fazer barulho, demasiado. E tu que não voltas para me chamar tudo aquilo que tanto gostavas, abafando assim este som de desmoronamento. A minha indiferença daria agora lugar a tranquilidade. Por estares aqui e seres quem és, por fazeres de mim aquilo que sou.Por me mostares mais o que o lado bom e o lado mau, por me protegeres e não te conseguires zangar comigo mesmo quando eu merecia, pela preocupação e por procurares sempre fazer-me rir (ou chorar), por não me deixares esquecer o meu mau feitio, por te lembrares dos mais pequenos detalhes. E podia continuar mas acho que não vale a pena. Já não estás aqui para me ouvir como sempre estiveste. E como eras um óptimo ouvinte! Se mais não formos do que aquilo que não chegamos a ser, perdoa-me! Porque para mim, seremos sempre um Mundo com mundos por dentro, um Mundo repleto de mel que tantas vezes dizias ser só nosso.
Vá, agora ajuda-me a reaver todos os pedacinhos. Guarda mesmo aqueles de que já só restam pequenas migalhinhas deixadas pelo tempo.Ainda acredito que um dia possamos voltar a juntá-los e a compôr a minha vida. Mas nunca te esqueças que só faz sentido se o fizermos juntos e por favor, não desistas de mim.

P.S.: Eu bem disse que Xadrez era um jogo demasiado chato para se jogar toda a vida.

domingo, 27 de março de 2011

Em banho-maria

Não gosto de fazer anos.Não gosto,pronto. Que sabem bem as palavras e os abraços e os miminhos, sabem, mas continuo a não achar grande piada a esta altura. Aquele balanço que as pessoas normalmente fazem no final de cada ano, eu costumo fazer antes de completar mais um. Penso nos projectos que tinha para realizar, nas viagens planeadas, nos objectivos traçados e chego sempre à mesma conclusão. As coisas até se fizeram, tal como previsto ou não mas continua tudo na mesma. Não houve um impulso, uma surpresa,uma viragem. Continua tudo morno,com pouco sal e isso começa a tornar-se aborrecido. "Ai que este ano é que é." É.Mas é o quê? Entretanto, enquanto fica tudo em banho-maria, sem levantar muita fervura, no vai que vai, afinal não vai do costume, vou-me tornando uma pessoa pior. Mais fria, menos preocupada com os outros e comigo e com a vida, com menos sorrisos para dar, com mais mau feitio e sempre a rezingar,e assim se vão passando os dias. E pode pensar quem ler isto que fala a amargura de uma vida e uma pessoa de noventa anos, já cansada, que vê os dias sucederem-se sempre com a mesma rotina mas afinal são só quase vinte.Mas o cansaço e a rotina estão cá.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

K.

Poderia dizer-te isto pessoalmente, enviar-te uma mensagem,telefonar-te mas por algum motivo senti que esta era a melhor forma de o dizer. Dizer como gosto de ti, das gargalhadas e dos sorrisos que me provocas. Do choro de felicidade quando me mimas como só tu sabes.
Seria capaz de passar horas a escrever sobre ti e sobre o bem que fazes a todos os que te rodeiam mas sei que não precisas de muito. Apenas quero que saibas que és das melhores pessoas que alguma vez conheci e sei que será sempre assim, que fazes mais do que podes e deves por mim (e por todos) e que és alguém que quero manter comigo para sempre.
E aconteça o que acontecer,bichinho, estou sempre aqui.
Prometo.:)

sábado, 27 de novembro de 2010


E quando encontramos alguém demasiado parecido com o que julgamos perfeito?














Continua a não ser ELE.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Carimbos

Dei 1500 voltas à cabeça na tentativa de encontrar a melhor forma de começar. Não encontrei solução. Sei exactamente daquilo que quero falar mas não sei como o fazer. Vou tentar. Já aqui tinha dito que há pessoas que nos marcam. Que nos carimbam a alma com um gesto, uma palavra, e ficam.Ficam para sempre. Ao nosso lado, muitas vezes sem nos apercebermos e caíndo no erro de as tomarmos como garantidas. Há ainda aquelas que vão para além disso. Que encaixam em cada pedacinho de nós na perfeição. Que nos completam as frases e lêem o pensamento. Se conseguem rir da nossa piada mais sem sentido e chamar-nos à razão no momento mais sério. Felizmente, vivo rodeada de gente que me dá sentido. Sinto que tenho as pessoas da minha vida, aquelas com quem quero envelhecer.
Por outro lado, quando achamos ter alguém que nos completa tanto, a outro nível,quando sentimos que aquela é a nossa pessoa, a que faz o nosso coração saltitar, a que nos faz brilhar o olhar e nos provoca o maior sorriso que alguma vez conhecemos em nós, mesmo com o passar dos anos, torna-se difícil deixar alguém entrar. Não queremos preencher um lugar que já tem dono, embora na verdade não esteja ocupado. E apesar de alguém, um dia, poder chegar à designação de especial, não será mais do que isso. Porque a nossa história, a nossa pessoa, já apareceu. Já é um bocadinho nossa. E os seus abraços. E o seu sorriso. É meu por isso. Não é díficil de perceber, pois não?